Por: Deise Navarro

Nesse texto, quero compartilhar com você algumas das muitas dúvidas que os pais de adolescentes que atendo em orientação profissional têm me trazido. E acredito que eles não estão sozinhos nesses questionamentos. Espero que você leitor também se beneficie desse conteúdo!

Pergunta 1: O que fazer quando a decisão foi tomada, mas eu não concordar por perceber que não é uma escolha condizente com a capacidade e com os sonhos do(a) meu(a) filho(a)?

Deise: Nesse caso você deve primeiramente se auto avaliar e tentar identificar se suas dúvidas têm uma base sólida na realidade. Perceba também quais são os critérios que você está usando para fazer essa avaliação. Se depois disso você ainda discordar da decisão, procure expor tudo isso a ele(a) propondo que faça uma reflexão a respeito. Busque abrir-se a uma discussão honesta, evitando impor suas próprias ideias. Antes de ir para essa conversa, algo importante a ser levado em consideração é perceber qual é o melhor momento para falar com ele(a). Muitos pais acabam não obtendo sucesso simplesmente por não notarem a disposição emocional que o(a) filho(a) se encontra naquele momento. Minha orientação é que você evite momentos em que ele(a) esteja sob estresse. Assim, épocas de provas, TPM ou de um evento importante no qual ele(a) esteja envolvido, por exemplo, devem ser evitados, pois haverá um risco significativo de vocês se desentenderem. Outros momentos de risco são quando seu(a) filho(a) estiver com fome, sono ou depois de discussões entre vocês. Por último, tente avaliar o grau de conflito que a relação de vocês enfrenta em determinadas fases e se perceber que as coisas não andam muito bem não hesite em buscar sua rede de suporte, abrindo espaço para que outro adulto entre em cena. Esse adulto pode ser o cônjuge, um(a) tio(a), um(a) amigo da família, um irmão mais velho ou um profissional como um(a) orientador(a) vocacional. Se os pais optarem por buscar ajuda profissional, pensem na possibilidade de haver um encontro entre todos vocês, no qual o(a) orientador poderá atuar com um mediador de conflitos, favorecendo a comunicação de assuntos mais complexos. De qualquer forma, é preciso estar preparado para as escolhas de um filho, pois nem sempre elas estarão em concordância com os desejos dos pais.

Pergunta 2: Meu(a) filho(a) já fez um processo de orientação vocacional, mas continuou em dúvida sobre qual curso fazer. Ele deve fazer outro processo?

Deise: Provavelmente não. Se seu(a) filho(a) já realizou um processo de orientação vocacional – programa com 5 a 10 encontros, que trabalha autoconhecimento e interesses/perfil profissionais, não vejo a necessidade dele(a) voltar a fazer um programa completo. Mas, se ele continua com dúvidas ou está fechado em escolha sobre a qual ele(a) não se aprofundou muito, vocês poderão agendar um ou dois encontros com um profissional da área de orientação para que possa haver um aprofundamento sobre a decisão. Dependendo do perfil psicológico de seu(a) filho(a) pode haver a necessidade de explorar um pouco mais os motivos da escolha e/ou as dúvida sobre determinada decisão. Outro ponto a ser analisado é em qual momento o processo aconteceu, pois as coisas podem mudar muito rapidamente nessa fase. Por isso a importância de optar por atendimentos com foco em autoconhecimento, pois o aprofundamento na autoconsciência traz ganhos duradouros. Além de diminuir os riscos de fazer escolhas sem pensar nos impactos delas sobre si mesmo.

Pergunta 3: Sinto meu filho muito perdido, não vejo perspectivas de ele tomar uma boa decisão profissional. Como posso ajudá-lo nesse momento?

Deise: Primeiramente, procure se certificar sobre o grau de envolvimento que ele(a) tem com o tema escolha profissional, pois nem sempre nossas impressões são reais. Assim, fale a respeito do tema com ele(a), faça questionamentos, proponha que façam uma pesquisa sobre os interesses dele(a) sobre determinada(s) profissões e veja como ele se posiciona diante de tudo isso. Se depois disso, suas impressões se confirmarem, você pode tentar o seguinte: ajude-o(a) a se aproximar ou se envolver no processo de escolha profissional! Como? Realizando com ele(a) pesquisas, estimulando-o(a) a conversar com seus amigos e/ou com os amigos dele(a), fale sobre os talentos e habilidades que você vê que ele(a) tem e ajude-o(a) a pensar no futuro, questionando sobre seus planos e desejos. Depois, faça com ele(a) conexões entre: interesses, habilidades, planos futuros e profissões. Embora essa proposta não seja algo simples, já que demanda disponibilidade de tempo e energia, pode ser um caminho excelente para ajudar alguém que busque fazer a primeira escolha profissional.

Pergunta 4: Como eu posso me aproximar da minha filha e me envolver no processo de escolha profissional dela, se tudo que eu falo ela diz que está errado?

Deise: Para falar sobre o atrito entre pais e filhos adolescentes eu costumo usar a seguinte analogia:

Podemos pensar na adolescência como uma viagem que tivesse como destino sua vida adulta. No momento do embarque, você carrega uma mala contendo diversos objetos, cada um representando algo que você recebeu de seus pais e de outras pessoas importantes em sua vida nos últimos anos.

Esses objetos simbolizam lembranças, opiniões, convicções e todo tipo de emoção que você experimentou até aqui.

Durante o trajeto, dependendo do lugar onde você estiver, terá que experimentar o que é adequado para a ocasião. E seguirá até o fim da viagem, decidindo o que lhe serve e o que não lhe serve mais, tendo como parâmetro seus valores e seu recém desenvolvido estilo pessoal.

Nesse processo, alguns objetos serão colocados de lado ou serão definitivamente excluídos e você fará novas aquisições, segundo suas necessidades e desejos.

Então, você começará a descobrir-se mais como um indivíduo, alguém com cada vez mais clareza dos próprios gostos e opiniões.

Os jovens vivem muitos conflitos na adolescência e um deles está ligado aos níveis de proximidade e distanciamento que manterão em relação aos pais. Eu digo conflito, pois eles não sabem bem o que querem. Às vezes, você terá a impressão de que o que eles mais querem é ficar longe e outras sentirá como se tivessem voltado a ser aquele(a) bebê meigo(a) pedindo colo. Essa busca de se distanciar acaba ficando marcante já que pode estar acompanhada de um certo de grau de agressividade – talvez a forma mais comum de se diferenciar dos pais é dizer que eles estão errados. Mas vale lembrar que esse fenômeno faz parte do processo que individualização que todos nós enfrentamos na adolescência. E ele diz da necessidade de tomar espaço para poder se tornar alguém que tem desejos e opiniões próprias. Por isso, não se deixe desanimar por esse tipo de comportamento, quando seu(a) filho(a) disser que você está errado(a), questione porque ele(a) acha aquilo e busque uma conversa racional e objetiva, pois isso ajudará vocês dois a se conhecerem melhor e a conhecerem melhor um ao outro. Não desista! Tente se aproximar sempre que possível! Assim, vocês notaram que podem ter opiniões diferentes e que isso, apesar de diferenciar vocês como indivíduos, não precisa distanciá-los emocionalmente.

Pergunta 5: Se meu(a) filho(a) optar por apenas responder ao MBTI* em vez de fazer um processo completo de Coaching Vocacional ele irá conseguir definir-se sobre sua escolha profissional? E gostaria de saber como é feita a aplicação e a sessão de MBTI.

Deise: O nível de autoconhecimento que um adolescente atinge apenas respondendo ao questionário MBTI, bem como a possibilidade de fazer co-relações objetivas entre seu perfil psicológico e as opções profissionais, pode ser suficiente para que a tomada de decisão sobre qual curso universitário fazer. Mas isso dependerá de alguns fatores, entre eles o nível de maturidade do(a) jovem e a forma como lida com definições mais claras. Eu já tive casos nos quais o teste foi suficiente, obviamente contando com uma devolutiva aprofundada e a aplicação de uma atividade que abordasse critérios de escolha profissional ou a estruturação de um projeto de vida. Em outros casos, o próprio(a) adolescente, por seu interesse em se aprofundar mais no autoconhecimento, preferiu fazer o processo completo e ficou muito feliz com os resultados.

A opção de realizar apenas a aplicação do MBTI acontece da seguinte forma: O MBTI é respondido on-line e gera um relatório personalizado do perfil psicológico da pessoa que respondeu. Eu recebo esse relatório por email e preparo uma devolutiva (presencial ou por Skype/Facetime) de 2h30min aproximadamente, na qual realizarei com ele(a) uma atividade prática sobre escolha profissional, explicarei de forma  aprofundada seu perfil MBTI e sua dinâmica psicológica, apresentarei as opções profissionais que têm a ver com seu perfil, farei a correlação entre essas opções e os critérios de escolha identificados na atividade e entregarei o relatório completo de seu perfil MBTI.

*leia mais sobre o MBTI e escolhas profissionais:

Deise Navarro é Psicóloga, Orientadora Profissional e de Carreira pela USP, com certificação em MBTI.